Como foi o processo da Abolição da Escravidão em 1888

 A abolição da escravidão no Brasil em 1888 foi o resultado de um processo longo, complexo e gradual, que envolveu pressões internas e externas, movimentos sociais, leis intermediárias e mudanças econômicas. Abaixo, explico os principais passos que levaram ao fim oficial da escravidão:





1. Pressões Internas e Externas

  • Internas: Desde o século XIX, havia resistência à escravidão vinda de setores da sociedade brasileira, como abolicionistas, religiosos, jornalistas, estudantes e até alguns políticos e fazendeiros que começaram a adotar o trabalho assalariado.

  • Externas: O Brasil era o último país das Américas a manter a escravidão. Houve grande pressão da Inglaterra, que já havia abolido o tráfico e a escravidão em suas colônias, para que o Brasil seguisse o mesmo caminho. O interesse inglês era tanto humanitário quanto econômico (promover o trabalho livre, mais vantajoso para o capitalismo).


2. Leis que Enfraqueceram o Sistema Escravocrata

  • Lei Eusébio de Queirós (1850)
    Proibiu o tráfico internacional de escravos. Isso dificultou a reposição da "mão de obra escrava", o que já começou a desestabilizar o sistema.

  • Lei do Ventre Livre (1871)
    Declarou livres os filhos de mulheres escravizadas nascidos a partir daquela data. No entanto, essas crianças continuavam sob a tutela dos senhores até os 21 anos.

  • Lei dos Sexagenários (ou Lei Saraiva-Cotegipe, 1885)
    Libertou os escravizados com mais de 60 anos de idade. Porém, muitos já estavam em idade avançada e não conseguiam sustentar-se sozinhos, sendo uma liberdade limitada.


3. O Movimento Abolicionista

Durante as décadas de 1870 e 1880, o movimento abolicionista ganhou força. Foi composto por intelectuais, políticos, jornalistas, artistas e até escravizados fugidos. Eles organizavam campanhas, discursos, fugas em massa, cartas públicas e até sociedades abolicionistas. Alguns nomes importantes:

  • Joaquim Nabuco

  • André Rebouças

  • José do Patrocínio

  • Luís Gama


4. Queda do Sistema Escravista

Com a pressão crescente e o número de escravizados caindo (por libertações, fugas e leis anteriores), manter a escravidão tornou-se cada vez mais insustentável. Muitos senhores começaram a libertar seus escravizados para se adaptarem à nova realidade do trabalho assalariado.


5. A Lei Áurea (13 de maio de 1888)

Assinada pela princesa Isabel, regente do Império na ausência de Dom Pedro II. A lei tinha apenas dois artigos:

  1. A escravidão fica declarada extinta no Brasil.

  2. Revogam-se as disposições em contrário.

Ela não previa indenização para os ex-escravizados, nem oferecia qualquer política pública para sua inserção social, educacional ou econômica.


Consequências Imediatas:

  • Os antigos escravizados ficaram abandonados à própria sorte, sem acesso a terra, moradia ou trabalho digno.

  • Os senhores de escravos, descontentes com a abolição sem indenização, se afastaram do Império, contribuindo para a queda da monarquia em 1889.

  • A estrutura social brasileira continuou profundamente desigual, com heranças da escravidão refletidas até hoje na exclusão social, no racismo estrutural e na marginalização dos descendentes de africanos.



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